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domingo, 1 de junho de 2014

Salvador Dalí, de Figueras para o Rio de Janeiro

     Da representação à imagem!
     Assim poderia, em uma frase, resumir a trajetória fantástica de Salvador Dalí (Figueras, 1904 - 1989) no curso da História da Arte. É isso que podemos acompanhar na exposição que chega ao Rio de Janeiro neste finalzinho de maio - com curadoria de Montse Aguer - um presente para o Rio até 22 de setembro.
    O pintor que automaticamente é associado às imagens absurdas, irracionais - e era essa a intenção de sua arte e de seus contemporâneos - tem, no entanto, uma trajetória coerente e lógica no curso das artes e descobertas de seu tempo. Importante ressaltar que esta mostra chega ao Rio de Janeiro depois de uma retrospectiva do pintor no Centro Pompidou (2012) e no Reina Sofia (2013). A partir disso, a mostra chega ao Rio com uma seleção de 29 pinturas, 72 gravuras e desenhos, 16 fotos e 39 documentos e segue, posteriormente, a São Paulo, onde será exibida no Instituto Tomie Othake, parceiro nas negociações para trazer Dalí ao público brasileiro.
    Embora a mostra priorize a produção de Dali no âmbito que o tornaria mais famoso, os anos 30 e sua produção surreal, é possível acompanhar a ampla atuação e a relação do artista com outros movimentos. Daí, Dalí: da representação à imagem. Até o advento da fotografia, a questão da representação (do mundo real, através da pintura, por exemplo) permnecera inquestionável. A partir daí, a pintura ganharia rumo diferente: em vez de "colar" com o real, o seu rumo foi exatamente o oposto: "descolar" do real...Abstrair, significa "afastar-se de". Abstração significa, em arte, afastar-se "da representação da realidade tal qual ela era" e, então, voltar-se para os aspectos intrínsecos da própria arte, como uma forma de negação ao ilusionismo da representação de, pelo menos, meio milênio. O Impressionismo foi justamente esse divisor de águas entre a representação (e o início desse afastamento), reiterado pelo Cubismo, como clímax de uma nova linguagem que apostava em um novo "funcionamento simbólico'. Falo em funcionamento, pois o Surrealismo vai se desenvolver paralelamente ao movimento racionalista na arquitetura e no desenho industrial, só que em direção oposta. Opostos no campo da consciência e da inconsciência. Do distinto e do indistinto. Sendo a arte não mais uma representação (objetiva da realidade), o inconsciente assume o lugar onde se pensa por imagens. Breton, autor do Manifesto surrealista de 1924, também foi médico psiquiátrico e estudioso de Freud. A experiência onírica torna-se fundamental e a relação arte-inconsciente reforça a ideia de desacreditar a forma (em toda amplitude da representação histórica) a favor de uma nova perspectiva: a poética do inconsciente como meio mais adequado de trazer à superfície os conteúdos profundos do inconsciente, com a menor interferência possível da consciência, para que a transcrição seja automática...Por isso, passamos do Dadá (e de sua "escrita automática") ao Surrealismo! Na mostra, percebemos exatamente este caminho de Dalí:
  Do  Impressionismo: movimento divisor entre a representação e a imagem


    Do Cubismo: aqui, o que realmente importa é como a pintura "funciona" (não mais o que representa)


    E, então, o triunfo da imagem:




    Mas, a mostra ainda tem muito mais. As ilustrações de obras literárias, como Dom Quixote, Alice no País das Maravilhas e o clássico de Hemingway, o Velho e o Mar:


    Os desenhos, que particularmente me encatam:

Hamlet, by Dalí!

    As várias capas de revistas:



    Tem mais! O público pode assistir a 3 filmes:O material jornalístico produzido:  O Cão Andaluz (1929), A idade de Ouro (1930) de Dalí e Buñel, e Quando Fala o Coração (1945), de Alfred Hitchcock, com cenas de sonhos desenhadas pelo pintor. 
    Mais: vários documentos, que incluem convites e capas de mostras realizadas pelo pintor:


    Você vai poder fazer um selfie surrealista, numa montagem da instalação Mae West Room, no andar térreo do CCBB. Dalí realmente estava à frente do seu tempo!
    O prédio do CCBB está com suas janelas que já preparam o clima surreal:


    Parte da coleção exposta veio diretamente do Museu-Casa do pintor em Figueras, que tive a oportunidade de visitar em 2008. Surreal, não? Mundo à fora, não deixe de visitar esta cidade, cujo turismo gira em torno da obra e do Museu de Dalí e fica a apenas 1h de trem de Barcelona e, em Paris, o Espaço Dalí, um simpático museu localizado em Montmartre.

Figueras

Figueras
Tem mais Dalí aqui no Rio:





    Tá achando tudo aqui absurdo? Embarque imediatamente no CCBB, RJ e conte aqui como foi a sua experiência surreal! 

2 comentários:

  1. Ótimo post! Fiquei com vontade ir conferir a exposição. Por que isso? Devo confessar... não sou muito fã de Dalí, mas o seu olhar me despertou!

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    1. Vale a visita, Jorge! As ilustrações dos clássicos literários, os desenhos e os filmes são, em minha opinião, os pontos altos da mostra e nunca circularam por aqui...E, ponto para o RIo: a parte que segue para São Paulo é um pouco menor que a mostra que temos por aqui!

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