Quem sou eu

Carioca, Arquiteta e Professora de História da Arte e Arquitetura. Vamos embarcar no mundo das artes, arquitetura e viagens? Embarque Imediato!

sábado, 29 de novembro de 2014

Bolonha, a minha moda e sob proteção de Netuno!

 Bolonha  é a capital da região  italiana da Emiglia-Romagna, conhecida por sua arquitetura e pela culinária. Se orgulha, ainda, de ter a Universidade mais antiga da Europa, datada de 1088. Localizada num ponto estratégico e atendida por uma malha ferroviária espetacular (recentemente ampliada, ganhou um andar apenas para os trens de alta velocidade) é ponto de partida (e chegada) de viajantes por Parma (que satisfaz em um bate e volta, explico o porquê em outro post) e Veneza (que nunca será suficiente mesmo por dias a fio, também vai ficar para outro post).
  A arquitetura...o que mais me chamou atenção foi o predominante tom avermelhado de suas construções e esculturas...e, claro, os arcos e pórticos! Parece não ser problema caminhar pela cidade, mesmo em um dia chuvoso, pois os pórticos praticamente abrigam todo o centro histórico.
  Arcos de todos os tipos e épocas:





Olha ai as plaquinhas

  Às vezes, pensamos estar em Roma:



  Mas, Netuno logo nos lembra que estamos sob sua proteção:



  De todos os arcos percorridos, estes ficarão na memória, tendo sido para mim a visita mais interessante na cidade: a Biblioteca Comunale dell'Archiginnasio, onde podemos visitar Il Teatro Anatomico e a sala onde palestravam sobre arte e ciência sem a menor distinção entre os campos.



  O Teatro Anatômico foi construído em 1637 e reconstruído após o bombardeio de 1944, momento que o palácio que o abriga foi brutalmente atingido: chamava-se assim pela forma típica dos anfiteatros.




Teto do Teatro Anatômico
  O teto segue o  esquema abaixo, o que corrobora com a ideia de que a consulta aos astros antes da cirurgia não é mito! 

Soffitto del teatro anatomico

  Já encantada e envolvida fiquei imaginando quantos cientistas e artistas já teriam passado por ali. Segui para a sala onde faziam os seus discursos. Num bate papo entre arte e ciência, faziam o futuro...E que sala!



  Os armários que guardam os livros originais são divididos por temas e segui imaginando quantos desses livros foram objeto de estudo para os engenheiros militares que aqui chegaram e fizeram a nossa história pelos primeiros 300 anos: o armário de Arte Militar, detentores dos saberes arquitetônicos por algum tempo...


  Um passeio por um momento em que arte e ciência se conectavam: pintores e cirurgiões tinham interesses comuns. Uma visita esclarecedora e emocionada.
  E o Ragu? Vamos primeiro combinar algumas  coisas: em Bolonha, não há o nosso famoso molho  à bolonhesa, certo?   Dito isto, fica uma dica para provar não só o melhor Ragu, mas a melhor refeição feita em alguns dias pela cidade: Osteria Dell'Orsa (fica na Via Mentana, 1). Uma tipica osteria, localizada no quarteirão universitário e por isso apresenta preços justos para o prato prinicpal da casa: o famoso Ragu. Vamos precisar combinar outra coisa: esqueça a generosidade do nosso molho à bolonhesa, uma vez que a massa, nesse caso, será o ator principal. Por último, vamos combinar o seguinte: grandes mesas de madeira, gente sentando pertinho e ouvindo a conversa um do outro e dando palpite no seu pedido, falando alto e pedindo jarras de vinho! Combinado?  Vá sem medo e entre mesmo achando que tenha chegado no lugar errado! Se aceitou todos os ajustes, terão uma noite maravilhosa! 



  Porque Bolonha é assim: vai se gostando aos poucos.


domingo, 2 de novembro de 2014

Um quadro, uma casa, uma cidade! Haia!

  Talvez eu esteja sendo injusta com Haia. Mas, o que me motivou a deixar a dinâmica Amsterdam e partir para Haia foi algo muito específico: visitar a Mauritshuis! A Casa de Mauricio - sim,  o nosso  Nassau - foi construída entre 1633 e 1644 para a residência de Nassau, um dos exemplos pioneiros do classicismo holandês e abriga desde 1822 um acervo espetacular da pintura flamenga, francesa mas, certamente é o museu que contempla a Era de Ouro da Pintura holandesa dos 1400 aos 1800: Vermeer, Rembrandt, Rubens, Frans Hals, Frans Post e por ai vai nos levam numa agradável visita por esta casa. É lá que está o que mais queria ver: a Moça com  Brinco de Pérolas, de Vermeer. O que posso dizer é que fui em busca de um quadro e ganhei uma cidade. Haia parece que faz de propósito: "deixe que pensem que Amsterdam é a única estrela da região...". Vamos embarcar e fazer uma viagem às avessas de Nassau e de Frans Post!
  Em 50 minutos de trem e 30 euros para ida e volta a partir de Amsterdam, você desembarcará em outro universo holandês, com muita história do Brasil para contar.
  O bem vindo a Haia, logo na saída da estacão de trem:



 Haia vai se mostrando, numa caminhada rápida até chegarmos na casa do nosso Mauricio.




  A essa altura, você já se lembrou da comitiva holandesa que se instalou no Nordeste brasileiro, no século XVII, sob o Governo de Mauricio de Nassau, que aceitou o convite da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais para administrar os domínios conquistados. Agora, queria te contar uma coisa: Mauricio de Nassau não era holandês e sim alemão. Para construir a sua Mauritstaadt (Cidade de Mauricio) em Recife, que ainda pode ser percebida nos atuais bairros de Santo Antônio e São José, contou com uma comitiva composta de artistas, arquitetos, pintores etc. Frans Post é o nome mais lembrado por nós, confirma? E como Frans Post chegou aqui? Esse sim, holandês e tinha um irmão mais velho chamado Pieter Post. Pieter Post era arquiteto e junto com Jacob van Campem foi responsável pela construção da Maurithuis (a casa de Mauricio) em Haia. Bingo! Agora, já conhecemos um pouco mais da familia Post e de sua relaçao com Brasil. Ambos estiveram em Recife!Tem mais, daqui a pouco conto...
  Estamos indo a Mauritshuis, a casa de Mauricio de Nassau antes de embarcar para o Brasil:



   E o cartão de visita da casa! 


   A essa altura, na minha cabeça as histórias da Holanda e do Brasil pernambucano já se entrelaçavam...Cheguei cedo e apenas alguns outros poucos turistas aguardavam a abertura pontual dos portões que nos levam, agora, a uma parte recém reformada, subterrânea, adaptando a casa às mais modernas tecnologias da museologia conectando a casa a um anexo. 
  Entenda o projeto, com essa imagem retirada do site do museu:



  Resumidamente, na parte antiga esta o acervo que faz da casa um dos principais museus da Holanda e a parte nova, além de garantir o acesso por novas instalações,  abriga uma loja com boa variedade de livros e lembrancinhas e o anexo como um espaço para exposição temporária, que na reabertura contava sobre a arquitetura do prédio e sobre o período de Nassau no Brasil. Um presente! Esta exposição segue até janeiro de 2015. O museu que já recebia cerca de 200 mil pessoas por ano, estima-se que a partir de 2015 este número suba para 250 mil. Nada mal para a casa do nosso Mauricio, afinal de contas contribuímos para a riqueza desse palacete, que mesmo por lá era reconhecido como a "Mansão do Açúcar", já que 2% da renda do comércio açucareiro entre a Holanda e o Brasil ia para seu bolso! E, não a toa, símbolos como índios, papagaios e tartarugas se misturam com a Era de Ouro da pintura holandesa nos salões nobres da Mauritshuis:



  Eu já tinha um plano armado: enquanto os outros turistas começariam o percurso de forma tradicional, ou seja, cronologicamente, como recomendado pela museologia da grande maioria dos museus, eu me mandei diretamente para o terceiro andar da casa, na sala em que o olhar (muito mais que o brinco) reina absoluto e pude ficar com  a moça por uns bons 10 minutos sem as milhares de lentes apontadas para ela.  Que momento mágico! A moça parece querer nos contar algo ou seria Vermeer? E que delicadeza de pintura que contrasta com a força do olhar, o equilíbrio perfeito das cores, o giro perfeito do rosto...enfim, estava em frente a moça! E, sem melhorar a imagem, quis colocar aqui o meu primeiro disparo, olho no olho de Vermeer! Acho que tremi na base...perdi uma boa imagem, mas não o olho no olho e a emoção que guardarei para sempre, estando tão perto de Vermeer.


   Queria apenas que este momento se prolongasse mais um tempinho...antes da sala ser invadida (sério, chegam todos ao mesmo tempo, a não ser que você também tenha um bom plano. Eu empresto o meu, dá certo!); queria só pra mim este momento tão próximo a Vermeer!Mas, a realidade se impunha e lá estavam dezenas de pessoas olhando o mesmo olhar...Por fim, ia em outras salas e, de repente, voltava até lá para olhar mais um pouquinho...A Moça com Brinco de Pérolas! 
  E o que mais tem na casa? O bom do Museu é que nos sentimos em casa, de verdade. Todo o percurso é intimista e parece revelar espaços e tempos outros, como todo bom museu.
  
A Velha e o Menino com velas, Rubens

  O fantástico quadro "Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp , de Rembrandt:


Vista de Delft, Vermeer
Menino sorridente, Frans Hals

  E, de repente, numa espiadinha para fora dos salões...



Ao sairmos é que percebemos a dimensão do projeto e que vista!



  Ali ao lado, no prédio com a torre, está o prédio onde o Primeiro Ministro toma as decisões mais importantes do país.


  Já estava satisfeita com o quadro, com a casa e agora já com Haia. Assim, resolvi conhecer mais...Agora, queria ir para outra casa: o palácio que abriga as obras de Escher! E, em outra breve caminhada, Haia me conquistou de vez. Ao lado da Mauritshuis, tem um portal e ao ultrapassarmos estamos no Binnenhof, o centro político de Haia, portanto, da Holanda:




  Saindo do Binnenhoff, uma avenida com várias instalações nos leva diretamente a Escher in Het Paleis:







  Diversão garantida ao longo do caminho e já estamos na segunda casa (palacete, neh?) a ser visitada e que abriga um importante acervo do Escher:


  Neste museu, entramos no mundo mágico de Escher ou como o Museu propõe: podemos ver o mundo pelos olhos de Escher. Através de jogos de ilusão e de suas perspectivas somos todos convidados a montar os nossos próprios quebra cabeças, fazendo com que parte do mundo ora apareça, ora desapareça! O último andar, muito divertido, podemos interagir o tempo todo com este espaço-tempo que Escher nos propõe e tudo de inusitado acontece ali, aos olhos de todos!









  Para quem foi foi visitar um quadro fiquei muito satisfeita com uma cidade e me redimo aqui da injustiça cometida com Haia ao sair de Amsterdam apenas pela Moça...E você, teria motivos para deixar Amsterdam e dar um pulo em Haia? 
  Eu teria outros vários motivos, mas antes de terminar o post, só mais uma espiadinha no motivo que ficará para sempre no coracão...A Moça...