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Carioca, Arquiteta e Professora de História da Arte e Arquitetura. Vamos embarcar no mundo das artes, arquitetura e viagens? Embarque Imediato!

domingo, 21 de dezembro de 2014

Murano, Burano e Torcello: 1 dia nos arredores de Veneza

    Veneza é espetacular e é mesmo difícil tirar um dia para percorrer algumas das várias ilhas nos arredores, facilmente alcançáveis com o vaporetto, meio de transporte mais caro do mundo. Portanto, optimize o seu uso! A minha escolha foi comprar um passe por 24 horas, a 18 euros, tendo início por volta das 10 horas da manhã. Por que? Porque você o utiliza ao longo do primeiro dia, inclusive à noite e, ainda, aproveita mais uma viagem para um ponto mais distante de Veneza na manhã seguinte.
    Optei por fazer o passeio nessa ordem: Murano, conhecida pela produção do vidro; depois, Burano, conhecida pelas cores de suas edificações e, por fim, Torcello, conhecida por abrigar a igreja  mais antiga de Veneza, a Catedral de Santa Maria Assunta.
    A vantagem de estar num vaporetto é poder admirar Veneza, sob um outro ponto de vista... e que vista!





    Murano na verdade reúne outras 7 ilhotas interligadas por pontes, que são marcos na paisagem e está localizada apenas 1 km de Veneza. Murano já foi o maior produtor de cristais da Europa, quando por volta do sec. XII os produtores de vidro de Veneza se mudam para lá. Embora ainda possamos ver essa atividade, percebo que vem diminuindo não só a produção, mas a quantidade de famílias envolvidas no processo. Ainda sim, é lindo de se ver. A Igreja de São Pedro e a torre dominam a paisagem e em apenas 1 hora você percorre a ilhota e percebe os traços da ocupação romana na Ilha. 

    Da ilhota marrom, Murano,  chegamos à  Ilha de todas a cores, Burano. E que harmonia têm as cores entre si. Cada morador precisa de uma autorização e recebe orientação para pintura da sua casa.




    Na sorveteria, ao lado do mercadinho, vai poder tomar aquele que foi eleito o melhor sorvete da viagem:


    E se divertir com as casinhas:



    E com as várias pontes e cores e mais cores...


    É  hora de partir para Torcello, a mais antiga das ilhas habitada após a Queda do Império Romano e tinha sua subsistência mantida pela retirada do sal no entorno de sua lagoa. Em 638 o Bispo de Altino fez da ilha sua residência e o sal foi próspero até o século XI, aproximadamente, e por isso, outra Igreja foi construída logo ao lado da primeira, a Igreja de Santa Fosca, já século XI. Em frente às duas igrejas há um museu arqueológico, com achados bizantinos e medievais. Diferente das outras ilhas, praticamente não há residências.  Há alguns restaurantes e todo o passeio se concentra na visita da Catedral de Santa Maria Assunta, de 639, que tem como destaque um lindo mosaico bizantino. Como era "proibido" fotografar fiz apenas essas fotografias, sem flash...e sem pecado!




    E era hora de voltar para Veneza e o vaporetto ainda tinha boas surpresas pela frente:






    E assim fui clicando Murano, Burano e Torcello! E Veneza, claro...Agora você, já clicou por lá? Mostra aqui pra gente, vai...

sábado, 29 de novembro de 2014

Bolonha, a minha moda e sob proteção de Netuno!

 Bolonha  é a capital da região  italiana da Emiglia-Romagna, conhecida por sua arquitetura e pela culinária. Se orgulha, ainda, de ter a Universidade mais antiga da Europa, datada de 1088. Localizada num ponto estratégico e atendida por uma malha ferroviária espetacular (recentemente ampliada, ganhou um andar apenas para os trens de alta velocidade) é ponto de partida (e chegada) de viajantes por Parma (que satisfaz em um bate e volta, explico o porquê em outro post) e Veneza (que nunca será suficiente mesmo por dias a fio, também vai ficar para outro post).
  A arquitetura...o que mais me chamou atenção foi o predominante tom avermelhado de suas construções e esculturas...e, claro, os arcos e pórticos! Parece não ser problema caminhar pela cidade, mesmo em um dia chuvoso, pois os pórticos praticamente abrigam todo o centro histórico.
  Arcos de todos os tipos e épocas:





Olha ai as plaquinhas

  Às vezes, pensamos estar em Roma:



  Mas, Netuno logo nos lembra que estamos sob sua proteção:



  De todos os arcos percorridos, estes ficarão na memória, tendo sido para mim a visita mais interessante na cidade: a Biblioteca Comunale dell'Archiginnasio, onde podemos visitar Il Teatro Anatomico e a sala onde palestravam sobre arte e ciência sem a menor distinção entre os campos.



  O Teatro Anatômico foi construído em 1637 e reconstruído após o bombardeio de 1944, momento que o palácio que o abriga foi brutalmente atingido: chamava-se assim pela forma típica dos anfiteatros.




Teto do Teatro Anatômico
  O teto segue o  esquema abaixo, o que corrobora com a ideia de que a consulta aos astros antes da cirurgia não é mito! 

Soffitto del teatro anatomico

  Já encantada e envolvida fiquei imaginando quantos cientistas e artistas já teriam passado por ali. Segui para a sala onde faziam os seus discursos. Num bate papo entre arte e ciência, faziam o futuro...E que sala!



  Os armários que guardam os livros originais são divididos por temas e segui imaginando quantos desses livros foram objeto de estudo para os engenheiros militares que aqui chegaram e fizeram a nossa história pelos primeiros 300 anos: o armário de Arte Militar, detentores dos saberes arquitetônicos por algum tempo...


  Um passeio por um momento em que arte e ciência se conectavam: pintores e cirurgiões tinham interesses comuns. Uma visita esclarecedora e emocionada.
  E o Ragu? Vamos primeiro combinar algumas  coisas: em Bolonha, não há o nosso famoso molho  à bolonhesa, certo?   Dito isto, fica uma dica para provar não só o melhor Ragu, mas a melhor refeição feita em alguns dias pela cidade: Osteria Dell'Orsa (fica na Via Mentana, 1). Uma tipica osteria, localizada no quarteirão universitário e por isso apresenta preços justos para o prato prinicpal da casa: o famoso Ragu. Vamos precisar combinar outra coisa: esqueça a generosidade do nosso molho à bolonhesa, uma vez que a massa, nesse caso, será o ator principal. Por último, vamos combinar o seguinte: grandes mesas de madeira, gente sentando pertinho e ouvindo a conversa um do outro e dando palpite no seu pedido, falando alto e pedindo jarras de vinho! Combinado?  Vá sem medo e entre mesmo achando que tenha chegado no lugar errado! Se aceitou todos os ajustes, terão uma noite maravilhosa! 



  Porque Bolonha é assim: vai se gostando aos poucos.


domingo, 2 de novembro de 2014

Um quadro, uma casa, uma cidade! Haia!

  Talvez eu esteja sendo injusta com Haia. Mas, o que me motivou a deixar a dinâmica Amsterdam e partir para Haia foi algo muito específico: visitar a Mauritshuis! A Casa de Mauricio - sim,  o nosso  Nassau - foi construída entre 1633 e 1644 para a residência de Nassau, um dos exemplos pioneiros do classicismo holandês e abriga desde 1822 um acervo espetacular da pintura flamenga, francesa mas, certamente é o museu que contempla a Era de Ouro da Pintura holandesa dos 1400 aos 1800: Vermeer, Rembrandt, Rubens, Frans Hals, Frans Post e por ai vai nos levam numa agradável visita por esta casa. É lá que está o que mais queria ver: a Moça com  Brinco de Pérolas, de Vermeer. O que posso dizer é que fui em busca de um quadro e ganhei uma cidade. Haia parece que faz de propósito: "deixe que pensem que Amsterdam é a única estrela da região...". Vamos embarcar e fazer uma viagem às avessas de Nassau e de Frans Post!
  Em 50 minutos de trem e 30 euros para ida e volta a partir de Amsterdam, você desembarcará em outro universo holandês, com muita história do Brasil para contar.
  O bem vindo a Haia, logo na saída da estacão de trem:



 Haia vai se mostrando, numa caminhada rápida até chegarmos na casa do nosso Mauricio.




  A essa altura, você já se lembrou da comitiva holandesa que se instalou no Nordeste brasileiro, no século XVII, sob o Governo de Mauricio de Nassau, que aceitou o convite da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais para administrar os domínios conquistados. Agora, queria te contar uma coisa: Mauricio de Nassau não era holandês e sim alemão. Para construir a sua Mauritstaadt (Cidade de Mauricio) em Recife, que ainda pode ser percebida nos atuais bairros de Santo Antônio e São José, contou com uma comitiva composta de artistas, arquitetos, pintores etc. Frans Post é o nome mais lembrado por nós, confirma? E como Frans Post chegou aqui? Esse sim, holandês e tinha um irmão mais velho chamado Pieter Post. Pieter Post era arquiteto e junto com Jacob van Campem foi responsável pela construção da Maurithuis (a casa de Mauricio) em Haia. Bingo! Agora, já conhecemos um pouco mais da familia Post e de sua relaçao com Brasil. Ambos estiveram em Recife!Tem mais, daqui a pouco conto...
  Estamos indo a Mauritshuis, a casa de Mauricio de Nassau antes de embarcar para o Brasil:



   E o cartão de visita da casa! 


   A essa altura, na minha cabeça as histórias da Holanda e do Brasil pernambucano já se entrelaçavam...Cheguei cedo e apenas alguns outros poucos turistas aguardavam a abertura pontual dos portões que nos levam, agora, a uma parte recém reformada, subterrânea, adaptando a casa às mais modernas tecnologias da museologia conectando a casa a um anexo. 
  Entenda o projeto, com essa imagem retirada do site do museu:



  Resumidamente, na parte antiga esta o acervo que faz da casa um dos principais museus da Holanda e a parte nova, além de garantir o acesso por novas instalações,  abriga uma loja com boa variedade de livros e lembrancinhas e o anexo como um espaço para exposição temporária, que na reabertura contava sobre a arquitetura do prédio e sobre o período de Nassau no Brasil. Um presente! Esta exposição segue até janeiro de 2015. O museu que já recebia cerca de 200 mil pessoas por ano, estima-se que a partir de 2015 este número suba para 250 mil. Nada mal para a casa do nosso Mauricio, afinal de contas contribuímos para a riqueza desse palacete, que mesmo por lá era reconhecido como a "Mansão do Açúcar", já que 2% da renda do comércio açucareiro entre a Holanda e o Brasil ia para seu bolso! E, não a toa, símbolos como índios, papagaios e tartarugas se misturam com a Era de Ouro da pintura holandesa nos salões nobres da Mauritshuis:



  Eu já tinha um plano armado: enquanto os outros turistas começariam o percurso de forma tradicional, ou seja, cronologicamente, como recomendado pela museologia da grande maioria dos museus, eu me mandei diretamente para o terceiro andar da casa, na sala em que o olhar (muito mais que o brinco) reina absoluto e pude ficar com  a moça por uns bons 10 minutos sem as milhares de lentes apontadas para ela.  Que momento mágico! A moça parece querer nos contar algo ou seria Vermeer? E que delicadeza de pintura que contrasta com a força do olhar, o equilíbrio perfeito das cores, o giro perfeito do rosto...enfim, estava em frente a moça! E, sem melhorar a imagem, quis colocar aqui o meu primeiro disparo, olho no olho de Vermeer! Acho que tremi na base...perdi uma boa imagem, mas não o olho no olho e a emoção que guardarei para sempre, estando tão perto de Vermeer.


   Queria apenas que este momento se prolongasse mais um tempinho...antes da sala ser invadida (sério, chegam todos ao mesmo tempo, a não ser que você também tenha um bom plano. Eu empresto o meu, dá certo!); queria só pra mim este momento tão próximo a Vermeer!Mas, a realidade se impunha e lá estavam dezenas de pessoas olhando o mesmo olhar...Por fim, ia em outras salas e, de repente, voltava até lá para olhar mais um pouquinho...A Moça com Brinco de Pérolas! 
  E o que mais tem na casa? O bom do Museu é que nos sentimos em casa, de verdade. Todo o percurso é intimista e parece revelar espaços e tempos outros, como todo bom museu.
  
A Velha e o Menino com velas, Rubens

  O fantástico quadro "Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp , de Rembrandt:


Vista de Delft, Vermeer
Menino sorridente, Frans Hals

  E, de repente, numa espiadinha para fora dos salões...



Ao sairmos é que percebemos a dimensão do projeto e que vista!



  Ali ao lado, no prédio com a torre, está o prédio onde o Primeiro Ministro toma as decisões mais importantes do país.


  Já estava satisfeita com o quadro, com a casa e agora já com Haia. Assim, resolvi conhecer mais...Agora, queria ir para outra casa: o palácio que abriga as obras de Escher! E, em outra breve caminhada, Haia me conquistou de vez. Ao lado da Mauritshuis, tem um portal e ao ultrapassarmos estamos no Binnenhof, o centro político de Haia, portanto, da Holanda:




  Saindo do Binnenhoff, uma avenida com várias instalações nos leva diretamente a Escher in Het Paleis:







  Diversão garantida ao longo do caminho e já estamos na segunda casa (palacete, neh?) a ser visitada e que abriga um importante acervo do Escher:


  Neste museu, entramos no mundo mágico de Escher ou como o Museu propõe: podemos ver o mundo pelos olhos de Escher. Através de jogos de ilusão e de suas perspectivas somos todos convidados a montar os nossos próprios quebra cabeças, fazendo com que parte do mundo ora apareça, ora desapareça! O último andar, muito divertido, podemos interagir o tempo todo com este espaço-tempo que Escher nos propõe e tudo de inusitado acontece ali, aos olhos de todos!









  Para quem foi foi visitar um quadro fiquei muito satisfeita com uma cidade e me redimo aqui da injustiça cometida com Haia ao sair de Amsterdam apenas pela Moça...E você, teria motivos para deixar Amsterdam e dar um pulo em Haia? 
  Eu teria outros vários motivos, mas antes de terminar o post, só mais uma espiadinha no motivo que ficará para sempre no coracão...A Moça...