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domingo, 11 de outubro de 2015

Do coração de Constantinopla à Istambul Moderna

    Em nosso segundo dia em Istambul a ideia era observar a cidade com mais calma. A multidão que circula pelas ruas me fascinava cada vez mais. O som para a chamada das orações que se espalha pela cidade ao longo do dia (e da noite), o som dos vendedores e dos turistas, enfim, o som e as cores do dia a dia em Istambul era a prioridade para este dia.
 Assim, caminhando desde Beyazit até a praça Sultanahmet, a principal praça da parte antiga de Istambul, todos esses sons se misturam....e milênios de história vão chamando a nossa atenção.
   A Coluna de Constantino foi construída em 330, como parte das comemorações para inaugurar a nova capital bizantina, Constantinopla. Muito reformada após algumas avarias e incêndios, o que mais sentimos falta é da estátua do Imperador como Apolo no topo, que tombou numa tempestade em 1106. Diz a lenda que fantásticas relíquias estão enterradas na base da coluna, entre elas o machado que Noé teria utilizado para construir a sua arca, além de um frasco de óleo de unção de Maria Madalena e até mesmo restos dos pães com que Cristo alimentou a multidão. Certo mesmo é que a coluna está lá, quase ao lado dos Banhos de Çemberlitaş, onde entramos e pegamos os valores para mais uma incrível experiência, que ficou para o dia seguinte (ah, não haverá fotos por razões óbvias, mas contarei sobre a experiência).

Coluna de Constantino
    No caminho para a praça Sultanahmet:






   Quase em frente à estação de tram de Sultanahmet está uma das maiores obras de engenharia bizantina: a Cisterna da Basílica, construída em 532 no reinado de Justiniano para atender a necessidade de crescimento do Grande Palácio. Quando falamos em Grande Palácio, queremos dizer um obra monumental - sem algo semelhante com que havia na Europa no mesmo período - um complexo que incluía aposentos reais, salões cerimoniais, igrejas, pátios e jardins e que, nos tempos bizantinos, ocupava desde a atual área de Sultanahmet, desde o Hipódromo até o porto imperial nas praias do mar de Mármara. A obra é impressionante, como também o é a sua descoberta. Até praticamente 1 século após a conquista/tomada os otomanos não sabiam da existência da cisterna. Ela foi descoberta quando moradores foram flagrados buscando água com baldes que desciam dos porões das casas. A estrutura original cobria uma área de 9800, sua cobertura é sutentada por 336 coluna com mais de 8 metros de altura. O que visitamos, que já é impressionante, representa 2/3 da estrutura original que comportava 100 milhões de litros de água, que chegava à cidade pela Floresta Belgrado, uns 20 km de Istambul, através do Aqueduto de Valens. Algumas de suas colunas possuem a cabeça de Medusa invertida.






    É na Praça Sultanahmet que se localiza as 2 grandes atrações de Istambul: a Mesquita Azul e a Basílica de Santa Sofia. Estão frente a frente, separada por uma área arborizada, ao lado do antigo Hipódromo de Bizâncio - que dele restou muito pouco -. Aqui estão também o Museu dos Mosaicos, erguido sobre parte do Grande Palácio Bizantino e o Museu de Artes Turcas e Islâmicas. Como sabia que visitaria o que é considerado o maior Museu de Arte Islâmica do Mundo, em Sarjah nos Emirados Árabes, visitamos o primeiro, mas não o segundo. Esta área exige mais de uma visita. 
 Então, decidimos por visitar a Basílica de Santa Sofia, cuja entrada é praticamente em frente à Cisterna. Hagia Sofia ou Santa Sofia confirma ser uma das maiores realizações arquitetônicas do mundo, um legado de sofisticação da capital bizantina do século 6º. Foi construída sobre 2 igrejas anteriores e inaugurada por Justiniano em 537. NO século 15, os otomanos a transformaram em mesquita: podemos ver os minaretes e as fontes desse período. Os contrafortes foram se edificando ao longo do tempo para ajudar a sustentar o peso. 




    A entrada é pela lateral:


   
    E quando entramos impossível não se impressionar com a amplidão do espaço!



    São 8 os  medalhões caligráficos colocados na nave, no nível da galeria e  trazem os nomes de Alá, do Profeta Maomé, dos 4 primeiros califas e de Hasan e Hussein, 2 dos netos de Maomé:






  A cúpula está a quase 60 metros...

 
   Paralisada, olhando em direção à Meca, na direção daquela porta dourada aos fundos...




   

   Entre os diversos mosaicos bizantinos, este retrata Cristo ladeado pelo Imperador Constantino 9º e a sua esposa, a Imperatriz Zoé.


     Mosaico da Virgem...
     Imagem de Cristo:

    Nos 2 mosaicos acima podemos ver que não foi possível "apagar" a história anterior.
    Uma rampa de pedra nos conduz do térreo às galerias de cima, também com vários mosaicos e de onde podemos ter uma vista melhor da galeria abaixo.






    Na saída,  a Fonte das Abluções (uma fonte de lavagens rituais), construída por volta de 1740, um exemplo de rococó turco, com teto pintado em florais.



    Para mim, a melhor vista de Hagia Sopia é da saída da Mesquita Azul:


   Essas 2 visitas preenchem facilmente uma manhã mais longa e fomos almoçar no indicado restaurante TRIA. Este restaurante fica numa simpática área nos arredores de Hagia Sofia, contrariando que lugares turísticos não são boas opções para uma refeição local a preços justos.



  Ao chegar no hotel de mesmo nome, foto acima, peça pelo restaurante que fica no terraço. Por quê? Vista para os telhados de Istambul e para o Mar de Mármara... a comida? Turca!Saborosa! atendimento? Perfeito! 




    Dessa vez, parte das delícias:





    E nunca falta o tradicional chá de maça após tantas opções.         Aliás, tomo um agora enquanto escrevo....


    Para ajudar o trabalho digestivo do chá, continuamos nossa caminhada em direção ao antigo Hipódromo, deixando a visita da Mesquita Azul para um outro dia.
    É neste caminho que fica o Arasta Bazar, mais um mercado. Menor e mais organizado, marcamos que a entrada para o Museu dos Mosaicos ficava por um de seus corredores...voltaríamos aqui!



    No caminho também vimos algumas casas que logo apelidei de El Caminito Turco por uma associação com Buenos Aires e que, assim como lá, algumas das mais antigas casas da cidade eram de madeiras e coloridas. Depois pude perceber a presença desses tipos de casas por outros bairros da cidade, em especial por Fatih, Fener e Balat.


 

   Não sei se consigo traduzir a emoção que foi chegar  no coração da antiga cidade bizantina de Constantinopla. O Hipódromo era o palco principal das comemorações públicas na inauguração de Constantinopla em 11 de maio de 330! 
   Entre tantas atividades,foi palco das famosas corridas de bigas (estilo Ben Hur, sabe?). Por isso, também foi palco de um dos eventos mais sangrentos que envolve justamente brigas entre rivais desta atividade, evento que ficou conhecido como Revolta de Nika.
  Hoje, modificado, é uma grande área ajardinada e seus principais monumentos são: a Coluna de Constantino, o Obelisco, a Coluna Serpenteada e a Fonte que homenageia a visita do Imperador Guilherme 2º à cidade, por isso , chamada de Fonte Alemã.


 Detalhes
             do 
    Obelisco

    Este Obelisco Egípcio foi construído em 1500 a.C. e ficava em Luxor até que Constantino o trouxesse para cá. Provavelmente, representa apenas 1/3 do tamanho do original!

       A Coluna da Serpente veio, provavelmente, de Delfos:




    E a Fonte alemã, onde podemos abastecer nossas garrafinhas de água e cuja abóbada é um espetáculo à parte:



       Na mesma área, o Museus de Arte Islâmica que não entramos:


    Era hora de voltarmos ao hotel, um banho e nada de descanso! Uma das noites mais movimentadas de Istambul nos aguardava. Onde? Arredores de Taksim, mais especificamente na NEVIZADE. 
   Taksim é o centro das atividades do moderno Beyoglu (ah, também é por lá e em Nisantasi, o bairro vizinho,  que grande parte do livro O Museu da Inocência se passsa).
   Taksim significa "distribuição de água" e desde o século XVIII a água que vinha da tal Floresta de Belgrado etc etc naquele momento passava por aqui e era redistribuída pela cidade. O reservatório original ainda existe no topo da principal rua de pedestre a Istikâl Caddesi, onde se concentra uma série de lojas, cafés e sorveterias. É por ela que alcançamos a Çiçek Pasaji: o antigo mercado de flores que deu lugar a vários restaurantes e bares que ficam lotados à noite. Passe por ela e perceberás como o conceito de "galerias" valia tanto para a Paris de Baudelaire quanto para cá: sim, estamos na Istambul Moderna!



    Logo adiante alcançaras uma rua com várias opções de bares oferecendo as mezzes, os petiscos turcos que acompanham as deliciosas cervejas turcas. Assim é a Nevizade: um motivo para celebrar tantas coisas vistas e as que ainda estavam por chegar...Saúde! 




    Sağlık ! Em turco!


    

6 comentários:

  1. Que dia incrível! Istambul é uma caica cheia de boas surpresas. Vc estudou bem a lição de casa e fez um ótimo roteiro. Amando a viagem!
    Beijocas

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    1. Cheio e divertido! Fiquei emocionada quando me dei conta que estava no coração de Constantinopla! Visitar Hagia Sophia foi incrível, mas avistá-la, ali da Praça...é indescritível! Em relação ao roteiro, vi muita coisa antes de embarcar e já havia sim, separado alguns pontos por dia e, acredite, ainda ficou coisa de fora rsrs Não tem jeito, eu adorei Istambul! E vamos seguir viagem...bjks

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    2. Eu passei 8 dias e não deu... a.cidade é grande e a gente fica encantado.com tudo.

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    3. Verdade...assim sobram motivos para, quem sabe, um retorno...

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  2. Que tal escrever um guia sobre Istambul? Vc descreve tudo tão bem que me vejo novamente por lá.

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    1. Olá, fico feliz que os posts te tragam boas lembranças...Assim, viajamos novamente, não é? Em relação a escrever um Guia, eu topava um trabalho colaborativo, com vários olhares e experiências...quem sabe? Bj

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