Quem sou eu

Carioca, Arquiteta e Professora de História da Arte e Arquitetura. Vamos embarcar no mundo das artes, arquitetura e viagens? Embarque Imediato!

sábado, 27 de setembro de 2014

Belleville, um passeio pelas cores e etnias do bairro de Edith Piaf

    Belleville está localizado fora do centro de Paris, no 20º arrondissement e é o bairro que Edith Piaf nasceu e fez as suas primeiras apresentações. Mas, não é só isso, como isso fosse pouco. Para aproveitar essa Paris cheia de cores e etnias  é preciso chegar devagar, caminhando pelo 11º arrondissement. Escolhi a estação  Rue Saint Mauer, a la Guimard:


     Para os fãs (eu!) de quadrinhos, a brincadeira já começa ali mesmo, na saída da estação com esta livraria:












Seguindo pela Rue Saint Mauer chegamos à Rue Oberkampf, onde no número 107, praticamente na esquina, está o Le M. U. R, um trocadilho para a palavra "parede", cuja sigla da associação significa Modulabel, Urbain, Réactif.  É interessante acompanhar como Paris se tornou centro de expressão da street art, atraindo os pioneiros americanos a se deslocarem atá lá, elevando o status de meras pichações a grafite, promovendo um debate sobre o uso dos espaços, tanto publico, quanto privado. Lembrando as rigorosas sanções que a França impõe mesmo numa simples colagem de cartaz pelos seus postes e paredes, parece que Belleville atingiu o ponto máximo deste diálogo.

    Essa é a versão 2014 do Le M.U.R, um espaço "regulamentado" para a expressão da arte contemporânea pelas paredes de Paris:


Aqui uma dica para seguirmos o passeio, pois você irá precisar: na rue Saint Mauer, nos números 113 e 150 há 2 mercados. O primeiro, um pouco antes dessa esquina do Le M.U.R é um franprix, com uma seção de vinhos brancos que surpreendeu, quando comparado com os outros mercados do mesmo tipo no centro de Paris, ofertando os Sauvignons Blancs do Vale do Loire (na minha opinião, os melhores entre os brancos) com preços excelentes. Os mesmos vinhos custavam quase três vezes mais na Grande Epicerie. O outro mercado, após esta esquina, já se parece com o que chamamos de supermercados (que também não vemos facilmente no centro de Paris) com produtos variados e com preços mais convidativos. Mas, para que um mercado no meio do caminho? Já já veremos se você vai ou não precisar...
    Descendo a Rue Saint Mauer em direção à Rue Belleville  (com a sacolinha abastecida, lembre-se!), uma Paris que se alterna entre a tradição e as novas cores e etnias:

Prédios que nos lembram a Paris Haussmanniana com a Igreja neo-românica de St. Joseph des Nations

              
  
    É na Rue Belleville que o francês se mistura com outros tons e línguas. A partir dos anos 50 do século passado o local foi point de imigrantes e, ainda hoje, abriga uma das maiores comunidades de chineses que vivem em Paris (a outra grande concentração está nos arredores da Place d' Italie, no 13º arrondissement). Aos chineses, uma grande população vinda de vários lugares da Africa foi se juntando, se acomodando. Daí as várias lojas e restaurantes étnicos na região.
    E as cores voltam a tomar conta de praticamente tudo que vemos pela frente: fachadas, postes, vasos de plantas etc. Na Rue Dénoyes, sua expressão máxima! Destaco abaixo a La Maison de la Plage que é a "casa" de um dos 23 coletivos de arte que junto com mais de 250 artistas integram a Associação de Artistas de Belleville, que tem como objetivo ocupar criativa e coletivamente espaços vazios, convencidos do conceito da necessidade da poesia cotidiana e apostam nos conceitos de troca, ecologia, jogo e arte. 






    Ao lado desta galeria de arte a céu aberto,bem na esquina, está o Aux Folies. Ao entrarmos, pensamos que o tempo parou e sem muito esforço podemos ouvir a voz de Piaf no burburinho entre as mesas que se espalham pela calçada e o seu interior praticamente inalterado. A cantora frequentava este local e se apresentou muitas vezes na porta ao lado, onde funcionava o Cabaret Folies-Belleville, hoje um supermercado:




    Pausa para o chocolate, energia renovada para seguirmos até o Parc Buttes-Chaumont. No caminho o jogo lúdico da street art e os vários dialetos se impõem:




    Logo alcançamos um dos maiores e surpreendentemente lindo parque entre tantos outros de Paris. Digamos, assim, que trata-se de um parque artificial, que em nada lembra o seu passado sombrio: era lá que funcionava a Gibbet de Montfaucon, local onde os inimigos do rei encontravam o seu castigo maior, a execução. O local permaneceria obscuro (ermo, perigoso, praticamente tendo virado um depósito em terras nada férteis) até o início dos trabalhos do velho conhecido Barão Haussmann que em meados do século XIX resolveu incluir a área do "Monte Careca" no seu plano de remodelação, abandonando a ideia de construir várias edificaçõess que ali seriam erguidas, nos presenteando com este parque.
    Entre grutas, lagos e ate um tempietto, as opções são diversas. Montmartre pode ser vista lá de cima, numa bela vista que o parc oferece. 
   Hora de pegar a sacolinha abastecida (eu disse que você iria precisar dela!) e escolher o melhor recanto para esvaziá-la ... Bon appétit!












A Basílica de Sacré Coeur e Montmartre 
    E assim foi um passeio delicioso por este bairro ainda pouco frequentado pelos turistas, a meio caminho de La Villette, outro passeio sensacional. 








2 comentários:

  1. Delicia de post! Amo ir à Belleville e almoçar no Le Baratin, depois um cafezinho no Aux Folies. Voltei ao Buttes-Chaumont para um "déjeuner sur l'herbe" e dali peguei.um.ônibus e caminhei depois até La Villette. A massa turística tem medo de andar por Belleville... Não sabem o que estão pwrdendo né?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Jorge! O bairro é muito interessante e ainda ficou muita coisa para a próxima rsr, como o próprio Parc Belleville. Tenho a impressão que o Le Baratin não abre aos domingos e segundas; teria que confirmar. Realmente deixar de ir até la é deixar escapar uma Paris incrivel!

      Excluir