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Carioca, Arquiteta e Professora de História da Arte e Arquitetura. Vamos embarcar no mundo das artes, arquitetura e viagens? Embarque Imediato!

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Istambul, um banho de curiosidades!

         A grande expectativa do dia era a visita ao Museu da Inocência, que já contei sobre ele aqui, no primeiro post sobre Istambul. O que eu ainda não sabia é que Istambul surpreenderia ao longo do dia (e por mais tantos dias que a gente resolvesse passar por lá!).
    Ver Istambul de cima - além de fazer sua câmera disparar em todas as direções -  é uma experiência que ajuda a entender como essa cidade fundada no século 7 a.C. dominou o controle do comércio no Bósforo,tendo sido por 16 séculos uma grande capital imperial; primeiro, do Império Bizantino e, depois, dos sultões otomanos. 
    A subida na Torre de Gálata, que pode ser feita por elevador ou pelos seus 143 degraus, permite uma vista fantástica da cidade. No entanto, para avistar a própria torre na paisagem de Istambul o melhor local é em Eyüp, já que a torre é um marco na paisagem do Chifre de Ouro. Mostro em outro post. 


    Antes de chegarmos ao topo, um painel explica a importância da torre para a cidade: datada do 6º século, orientava a navegação. Após a conquista de Istambul, foi transformada em prisão e depósito naval. Posteriormente foi ponto de observação de incêndios e, após uma reforma e a instalação de um restaurante no 9º andar é hoje um atrativo que arranca suspiros de milhares de turistas.




    Após a visita era hora de experimentar aquela que se revelaria a melhor baklava de Istambul! Sim, experimentei muitas, todas eu poderia dizer rrs! E a melhor fica ali: a uma estação antes da torre de Gálata, em Tophane! Da estação você já avista o letreiro no alto de um prédio, anunciando que você está apenas a 5 minutos da KARAKÖY GÜLLÜOGLU, em funcionamento desde o século XIX:


     A não ser que você domine o idioma, esqueça o painel e aponte o dedo em qualquer direção. Não vai ter erro!


     Começamos pela salgada, com recheio de queijo (chama-se Borek):



    Depois, ah...depois...amêndoas, pistaches, nozes...e até chocolate, sob as mais diversas combinações. 



     Descobrimos que há outras lojas pela cidade, mas não com essa variedade. Aliás, para nossa surpresa, encontramos a loja também em Atenas! É claro que repetimos o ritual: esquecemos o painel de sabores e, então, dedos em grego! 
   Seguimos para o Museu dos Mosaicos, que já tínhamos visto que a sua entrada era pelo Arasta Bazar. Que surpresa! Um museu pequenino que dá uma dimensão do que era o Grande Palácio. Na verdade, o museu é uma das maiores superfícies deste tipo preservadas na Europa e em seus 1872m2 os remanescentes revelam como era a decoração de vários dos cômodos do Grande Palácio. Essas superfícies repletas de mosaicos (pisos, principalmente) foram descobertas apenas em 1930. Para termos uma ideia do impacto desses mosaicos o museu fica localizado em Sultanahmet e estes revestimentos cobriam uma área que vai até onde hoje está localizado, por exemplo, o Palácio Topkapi! Uau!Supõe-se que os mosaicos tenham sido cridos por uma oficina imperial que empregava os melhores artesãos sob a supervisão de um artista-mestre. As imagens são as mais diversas: cenas domésticas e pastorais, que mostram pastores e seus animais, além de representação da caça e de luta. Há mais de 150 representações humanas. Também há representações da mitologia e criaturas fantásticas. Acredita-se que estas últimas faziam parte das colunas que iam dos aposentos reais até a área reservada para a corte, ao lado do Hipódromo, datando do fim do século 5º.







      Sensacional, não? 
    Final de tarde, aproveitamos para conhecer a praça Beyazit, praticamente em frente ao hotel escolhido para hospedagem. Uma praça simpática, vibrante e que durante a semana funciona um mercado de pulgas. É nesta praça que fica a Universidade de Istambul com seu lindo portão mourisco:



    Aí que também se localiza o Museu de Caligrafia, que não conseguimos visitar, pois estava em reforma! 



    A torre e a Mesquita de Beyazit completam o conjunto da praça.


    E terminamos esse dia com uma experiência que não pode faltar em uma viagem à Turquia: o banho turco! Sem fotos internas, esse foi o escolhido para a mordomia... massagem enquanto o corpo relaxa numa grande pedra de mármore no meio de um lindo salão cheio de fontes de água, esfoliações e sauna. Neste Banho, homens e mulheres ficam em áreas distintas. Lá dentro te entregam um kit de acordo com o "pacote de banho/massagem" adquirido e, após isso, somente a mímica vai indicando para onde você deve se dirigir e o quê fazer...Logo logo você entende a lógica do processo. Ao final: renovada para os dias seguintes!Aliás, gostei tanto que se pudesse iria todos os dias, mas era muito mais barato tomar banho no hotel! 


domingo, 11 de outubro de 2015

Do coração de Constantinopla à Istambul Moderna

    Em nosso segundo dia em Istambul a ideia era observar a cidade com mais calma. A multidão que circula pelas ruas me fascinava cada vez mais. O som para a chamada das orações que se espalha pela cidade ao longo do dia (e da noite), o som dos vendedores e dos turistas, enfim, o som e as cores do dia a dia em Istambul era a prioridade para este dia.
 Assim, caminhando desde Beyazit até a praça Sultanahmet, a principal praça da parte antiga de Istambul, todos esses sons se misturam....e milênios de história vão chamando a nossa atenção.
   A Coluna de Constantino foi construída em 330, como parte das comemorações para inaugurar a nova capital bizantina, Constantinopla. Muito reformada após algumas avarias e incêndios, o que mais sentimos falta é da estátua do Imperador como Apolo no topo, que tombou numa tempestade em 1106. Diz a lenda que fantásticas relíquias estão enterradas na base da coluna, entre elas o machado que Noé teria utilizado para construir a sua arca, além de um frasco de óleo de unção de Maria Madalena e até mesmo restos dos pães com que Cristo alimentou a multidão. Certo mesmo é que a coluna está lá, quase ao lado dos Banhos de Çemberlitaş, onde entramos e pegamos os valores para mais uma incrível experiência, que ficou para o dia seguinte (ah, não haverá fotos por razões óbvias, mas contarei sobre a experiência).

Coluna de Constantino
    No caminho para a praça Sultanahmet:






   Quase em frente à estação de tram de Sultanahmet está uma das maiores obras de engenharia bizantina: a Cisterna da Basílica, construída em 532 no reinado de Justiniano para atender a necessidade de crescimento do Grande Palácio. Quando falamos em Grande Palácio, queremos dizer um obra monumental - sem algo semelhante com que havia na Europa no mesmo período - um complexo que incluía aposentos reais, salões cerimoniais, igrejas, pátios e jardins e que, nos tempos bizantinos, ocupava desde a atual área de Sultanahmet, desde o Hipódromo até o porto imperial nas praias do mar de Mármara. A obra é impressionante, como também o é a sua descoberta. Até praticamente 1 século após a conquista/tomada os otomanos não sabiam da existência da cisterna. Ela foi descoberta quando moradores foram flagrados buscando água com baldes que desciam dos porões das casas. A estrutura original cobria uma área de 9800, sua cobertura é sutentada por 336 coluna com mais de 8 metros de altura. O que visitamos, que já é impressionante, representa 2/3 da estrutura original que comportava 100 milhões de litros de água, que chegava à cidade pela Floresta Belgrado, uns 20 km de Istambul, através do Aqueduto de Valens. Algumas de suas colunas possuem a cabeça de Medusa invertida.






    É na Praça Sultanahmet que se localiza as 2 grandes atrações de Istambul: a Mesquita Azul e a Basílica de Santa Sofia. Estão frente a frente, separada por uma área arborizada, ao lado do antigo Hipódromo de Bizâncio - que dele restou muito pouco -. Aqui estão também o Museu dos Mosaicos, erguido sobre parte do Grande Palácio Bizantino e o Museu de Artes Turcas e Islâmicas. Como sabia que visitaria o que é considerado o maior Museu de Arte Islâmica do Mundo, em Sarjah nos Emirados Árabes, visitamos o primeiro, mas não o segundo. Esta área exige mais de uma visita. 
 Então, decidimos por visitar a Basílica de Santa Sofia, cuja entrada é praticamente em frente à Cisterna. Hagia Sofia ou Santa Sofia confirma ser uma das maiores realizações arquitetônicas do mundo, um legado de sofisticação da capital bizantina do século 6º. Foi construída sobre 2 igrejas anteriores e inaugurada por Justiniano em 537. NO século 15, os otomanos a transformaram em mesquita: podemos ver os minaretes e as fontes desse período. Os contrafortes foram se edificando ao longo do tempo para ajudar a sustentar o peso. 




    A entrada é pela lateral:


   
    E quando entramos impossível não se impressionar com a amplidão do espaço!



    São 8 os  medalhões caligráficos colocados na nave, no nível da galeria e  trazem os nomes de Alá, do Profeta Maomé, dos 4 primeiros califas e de Hasan e Hussein, 2 dos netos de Maomé:






  A cúpula está a quase 60 metros...

 
   Paralisada, olhando em direção à Meca, na direção daquela porta dourada aos fundos...




   

   Entre os diversos mosaicos bizantinos, este retrata Cristo ladeado pelo Imperador Constantino 9º e a sua esposa, a Imperatriz Zoé.


     Mosaico da Virgem...
     Imagem de Cristo:

    Nos 2 mosaicos acima podemos ver que não foi possível "apagar" a história anterior.
    Uma rampa de pedra nos conduz do térreo às galerias de cima, também com vários mosaicos e de onde podemos ter uma vista melhor da galeria abaixo.






    Na saída,  a Fonte das Abluções (uma fonte de lavagens rituais), construída por volta de 1740, um exemplo de rococó turco, com teto pintado em florais.



    Para mim, a melhor vista de Hagia Sopia é da saída da Mesquita Azul:


   Essas 2 visitas preenchem facilmente uma manhã mais longa e fomos almoçar no indicado restaurante TRIA. Este restaurante fica numa simpática área nos arredores de Hagia Sofia, contrariando que lugares turísticos não são boas opções para uma refeição local a preços justos.



  Ao chegar no hotel de mesmo nome, foto acima, peça pelo restaurante que fica no terraço. Por quê? Vista para os telhados de Istambul e para o Mar de Mármara... a comida? Turca!Saborosa! atendimento? Perfeito! 




    Dessa vez, parte das delícias:





    E nunca falta o tradicional chá de maça após tantas opções.         Aliás, tomo um agora enquanto escrevo....


    Para ajudar o trabalho digestivo do chá, continuamos nossa caminhada em direção ao antigo Hipódromo, deixando a visita da Mesquita Azul para um outro dia.
    É neste caminho que fica o Arasta Bazar, mais um mercado. Menor e mais organizado, marcamos que a entrada para o Museu dos Mosaicos ficava por um de seus corredores...voltaríamos aqui!



    No caminho também vimos algumas casas que logo apelidei de El Caminito Turco por uma associação com Buenos Aires e que, assim como lá, algumas das mais antigas casas da cidade eram de madeiras e coloridas. Depois pude perceber a presença desses tipos de casas por outros bairros da cidade, em especial por Fatih, Fener e Balat.


 

   Não sei se consigo traduzir a emoção que foi chegar  no coração da antiga cidade bizantina de Constantinopla. O Hipódromo era o palco principal das comemorações públicas na inauguração de Constantinopla em 11 de maio de 330! 
   Entre tantas atividades,foi palco das famosas corridas de bigas (estilo Ben Hur, sabe?). Por isso, também foi palco de um dos eventos mais sangrentos que envolve justamente brigas entre rivais desta atividade, evento que ficou conhecido como Revolta de Nika.
  Hoje, modificado, é uma grande área ajardinada e seus principais monumentos são: a Coluna de Constantino, o Obelisco, a Coluna Serpenteada e a Fonte que homenageia a visita do Imperador Guilherme 2º à cidade, por isso , chamada de Fonte Alemã.


 Detalhes
             do 
    Obelisco

    Este Obelisco Egípcio foi construído em 1500 a.C. e ficava em Luxor até que Constantino o trouxesse para cá. Provavelmente, representa apenas 1/3 do tamanho do original!

       A Coluna da Serpente veio, provavelmente, de Delfos:




    E a Fonte alemã, onde podemos abastecer nossas garrafinhas de água e cuja abóbada é um espetáculo à parte:



       Na mesma área, o Museus de Arte Islâmica que não entramos:


    Era hora de voltarmos ao hotel, um banho e nada de descanso! Uma das noites mais movimentadas de Istambul nos aguardava. Onde? Arredores de Taksim, mais especificamente na NEVIZADE. 
   Taksim é o centro das atividades do moderno Beyoglu (ah, também é por lá e em Nisantasi, o bairro vizinho,  que grande parte do livro O Museu da Inocência se passsa).
   Taksim significa "distribuição de água" e desde o século XVIII a água que vinha da tal Floresta de Belgrado etc etc naquele momento passava por aqui e era redistribuída pela cidade. O reservatório original ainda existe no topo da principal rua de pedestre a Istikâl Caddesi, onde se concentra uma série de lojas, cafés e sorveterias. É por ela que alcançamos a Çiçek Pasaji: o antigo mercado de flores que deu lugar a vários restaurantes e bares que ficam lotados à noite. Passe por ela e perceberás como o conceito de "galerias" valia tanto para a Paris de Baudelaire quanto para cá: sim, estamos na Istambul Moderna!



    Logo adiante alcançaras uma rua com várias opções de bares oferecendo as mezzes, os petiscos turcos que acompanham as deliciosas cervejas turcas. Assim é a Nevizade: um motivo para celebrar tantas coisas vistas e as que ainda estavam por chegar...Saúde! 




    Sağlık ! Em turco!